—Acabou-se o conforto!
De passagem pelo Ponto de Cem Reis, ontem à tarde, parei para admirar o velho prédio do IPASE, atualmente em processo de restauração e requalificação. Aquilo foi um marco na história urbana pessoense.
Inaugurado em 1951, no governo Getúlio Vargas ungido pelas urnas, que o havia criado em 1938, na ditadura do Estado Novo, representou, na largada, sinais de inovação urbana para a cidade.
Até 1977, serviu, na Paraíba, como administração geral do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado, justamente o significado da sigla Ipase, de caráter paraestatal, atendendo aos servidores federais.
Funcionário da UFPB, estive várias vezes no Ipase, em busca de atendimentos eventuais. A memória me falha, neste momento, e não sei precisar exatamente se era apenas um ou se eram dois os elevadores a funcionar no prédio.
Um ou dois, estava ou estavam sempre completamente lotados. Ao menos quando minhas necessidades me levaram à instituição. Era um desconforto enorme tanto para os segurados quanto para os ascensoristas.
Sempre que me lembro de um desses ascensoristas, à época, já um cidadão de certa idade, volto a me divertir. Aliás, em meio à árdua tarefa a que estava obrigado, outra não era o seu propósito: divertir.
—Capital do estado, acabou-se o conforto! Era o que dizia quanto o elevador se abria no térreo, após impedir com o braço qualquer um de descer ou subir, se apeando na frente, e anunciando João Pessoa aos usuários.
Em cada andar que o elevador parava, ele tinha alguma graça, sempre na frente da turba, impedindo invasões bruscas ou descidas precipitadas. —Calma, sem empurrar, sem ferir ninguém ou diminuir o conforto!
Ali, tinha pouca gente satisfeita com a vida, inclusive, lógico, o próprio ascensorista. Salários baixos, orçamentos comprometidos, custo de vida alto, vida difícil, poucos motivos de felicidade.
Mas, lá seguia ele, senhor de um pequeno mundo suspenso por cabos, exercendo com nobreza e alegria o ofício de ascensorista e mestre de cerimônias dos ares. Não era só um funcionário — era um mestre de cerimônias.
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