Li todos os livros de poemas de Carlos Newton Júnior, desde o primeiro, O homem só e outros poemas, passando por títulos como Canudos, Poeta em Londres, Ofício de sapateiro, Memento mori: sonetos da morte e Vontade de beleza, entre outros, até o mais recente, ora publicado, Redenção de agosto. Escrevi resenhas críticas sobre alguns e percebi, desde logo, duas características que me chamam a atenção no exercício de sua poética. A primeira, em âmbito formal,
concerne ao pleno domínio da técnica do verso, na métrica e no ritmo. Seja o verso isométrico ou heterométrico, pois desconfio, a partir da lição de T. S. Eliot, que o verso livre não existe. Este domínio envolve, em especial, certas formas fixas, a exemplo do soneto em decassílabo, o que o torna um mestre respeitado na disciplina do modelo tradicional. A segunda diz respeito à riqueza semântica de seu lirismo, atento a uma variada distribuição temática, onde se destacam, entre outros motivos e assuntos, o amor, a morte, a infância, o tempo, a memória, o cotidiano, a solidão, a angústia existencial, a reflexão poética e metalinguística. Classifico os poetas em duas categorias, em certo sentido arbitrárias, como, de resto, é toda classificação. Os que passam e os que permanecem. Ou, dito de outra maneira, os ocasionais e os de sempre. Aqueles , os ocasionais, se perdem no meio do caminho, quer pela superficialidade com que capturam as coisas do mundo, em geral submetidos aos ditames do clichê emotivo, vocabular e imagético, quer, de outra parte, pela aposta cerebral na simples pesquisa de linguagem e nos experimentos gráfico-visuais. Estes, os de sempre, não temem os sortilégios permanentes da poesia e se dão ao gosto da leitura em todos os tempos. Para estes, poesia é forma estética, mas também um modo muito especial de se comunicar. Carlos, me parece, é um desses poetas. Sem fugir ao esforço que a expressão poética exige, em termos acústicos, morfológicos, sintáticos, não teme, no entanto, os chamados da vida nem os conflitos da condição humana. Por isto mesmo, passa ao largo das ditas competências laboratoriais e dos hermetismos vazios. Dos modismos efêmeros em que tantos, sobretudo os parvos e pernósticos, se comprazem, como se tivessem descoberto o milagre da pólvora. Sua dicção é simples, leve, melódica, surpreendente. O homem culto e estudioso, ainda que se revele aqui e ali, na quadratura de um verso, no desenho de alguma imagem, numa pitada intertextual, o que, de fato, habita sua geografia poética é o olhar espontâneo e sensível de uma percepção inaugural. Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Cecília Meireles, Adélia Prado, só para referir nomes consagrados e que permanecem, constituem a família literária a que Carlos Newton Júnior pertence. Isso, quero crer, não é pouco.
O poeta está, hoje, dia 12 de abril, em João Pessoa, lançando, às 19 horas, na Livraria de A União, no Espaço Cultural, o livro Redenção de agosto (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2023). Quem gosta de poesia não pode perder!