Quando leio, leio. Quando lavo a louça, lavo a louça. Quando cuido dos meus pássaros, cuido dos meus pássaros. Quando escrevo meus poemas, escrevo meus poemas. Sinto, não sei como, que meus poemas também me escrevem. Quando brinco com Larinha, brinco com Larinha. Quando caminho, caminho. Quando saboreio o meu uísque, saboreio o meu uísque. Nada como o malte envelhecido para curar o tédio. Quando estou com quem amo, estou com quem amo. O amor, segundo
Dante, move o sol e as outras estrelas. Quando abraço o amigo, abraço o amigo. Quando escuto Bach, ou Joan Baez, ou Maysa, escuto Maysa, ou Joan Baez, ou Bach. Como Nietzsche, não concebo a vida sem a música. Quando fico em silêncio, fico em silêncio. O silêncio ainda me parece a melodia mais perfeita. Quando falo, falo. Quando me desespero, me desespero. Desesperar-se me faz bem. São muito poucos os pontos de apoio. Os elementos fixos. Nunca me sinto inteiramente em equilíbrio. Quando viajo, viajo. Quando arrumo meus livros, arrumo meus livros. Minha biblioteca é a minha caverna. Meu antimundo. Meu paraíso. Quando repouso, repouso. Quando estou comigo, estou comigo. Quando devaneio, devaneio. As palavras puxam as palavras, o pensamento vadia. Se a prosa anda a cavalo, a poesia voa, disse Francisco Carvalho, poeta cearense.