Mirtzi
Toda forma de assédio é perniciosa.
Invariavelmente, o assédio costuma ser uma prática habitual do abusador e ele terá esse comportamento ao longo de sua vida. Portanto, é efetuado em série e deixa muitas vítimas.
Tal prática precisa ser rechaçada e coibida. A sociedade não pode continuar com uma aceitação passiva diante desse ato e as mulheres não podem ficar reféns disso.
Abusos são cometidos por homens contra mulheres que vivem cobertas com burca, usam saia longa em roupas que a escondem ou até com as que usam fraldas em tenra idade, o que é um horror. Portanto, não é e nunca será uma roupa que provoca tal coisa.
O que há, então? Mentes que incutiram e continuam alimentando a ideia de que mulher pode ser usada para satisfazer o homem, mesmo sem o seu consentimento. O abuso começa em uma mente adoecida e se concretiza através de artimanhas, armadilhas e estratagemas definidas previamente pelo predador. Ele está sempre atento para criar essa oportunidade para o ato. O ato é premeditado!
Denunciar tem sido sempre um desafio com tons de martírio, quando esse ato nocivo é feito em vítimas mulheres, adolescentes do sexo feminino e meninas.
Por que? É inconcebível, mas, o alvo de dúvidas e pedras se inverte: ao invés do molestador, a vítima passa a ser julgada, desacreditada e todos os holofotes acusatórios se viram contra a mulher.
Geralmente, o reforço a uma denúncia só ocorre quando surgem outras vítimas do mesmo abusador, testificando que este agiu assim ao longo de vários anos. Porque “provas”, nesses casos específicos, são difíceis de colher. O predador age de caso premeditado e a vítima sequer suspeita que poderá ser assediada.
Atire a primeira pedra, a mulher que em algum momento de sua vida pessoal ou profissional nunca sofreu nenhum tipo de assédio.
Que fiquem atentos os pais, as mães e a família que tem meninas e mulheres no seu convívio. Cuidem delas e ofereçam todo o apoio necessário, porque a anomalia do assédio contra elas se apresenta diariamente, no mundo todo.
Infelizmente, o desconforto, a vergonha, a sensação traumatizante, fica como um peso desestabilizador sobre a mulher.
As políticas públicas devem consagrar à mulher todo o suporte para que possa lidar com o abuso sofrido. Mas, o essencial, é criar mecanismos e educar a população para que o assédio seja erradicado, para que não se consolide.
O assunto é delicado e comporta muita responsabilidade.
É lógico e usual, que o abusador tem e terá todas as prerrogativas e presunção de inocência e a ele a lei concede o direito ao contraditório e à ampla defesa. Além disso, o julgamento popular ainda é condescendente e parcial, ao minimizar a gravidade do ato, que invariavelmente é praticado contra inúmeras mulheres por um único culpado.
As medidas punitivas não podem ser abrandadas e a gravidade do ato deve ser reconhecida.
A mulher precisa de proteção, sim, em todos os casos.
A população deve rever seus conceitos patriarcais e culturais em relação à secular nocividade atribuída à figura feminina.
A imagem feminina não representa a serpente que fez o ser humano perder o paraíso, não é a figura da mulher fatal cujo carimbo é posto sobre ela, não é a bruxa que precisa ser queimada viva, nem é a Lilith que desencaminha os homens, nem a sereia que canta para leva-lo à morte no fundo dos mares.
A mulher é um ser humano, que é dotada de capacidades amplas, é apta ao bom convívio, e tem direito a viver sem ser molestada, merece um olhar de respeito, e deve ter a garantia ao direito de ir e vir sem ser alvo de predadores.
A figura e a imagem feminina precisam ser ressignificadas, valorizadas, validadas, e acima de tudo, respeitadas.
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