EDITORIAL TRIBUNA DA IMPRENSA - A Facada dos Juros: O Peso da Decisão do COPOM na Vida do Brasileiro

EDITORIAL TRIBUNA DA IMPRENSA - A Facada dos Juros: O Peso da Decisão do COPOM na Vida do Brasileiro
21/03/2025

A Facada dos Juros: O Peso da Decisão do COPOM na Vida do Brasileiro

EDITORIAL TRIBUNA DA IMPRENSA

A decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM) de elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual na última reunião acerta em cheio o bolso do brasileiro e as engrenagens da economia. Sob a justificativa de conter pressões inflacionárias, o Banco Central impõe um fardo adicional sobre empresas, trabalhadores e o próprio governo, tornando o crédito mais caro e o crescimento mais distante. Se há ganhadores nessa história, eles se resumem ao setor financeiro e a investidores de renda fixa, enquanto o resto do país paga a conta.  

O crédito encarece e o pequeno empresário sente primeiro

Para quem empreende, seja um grande empresário ou um microempreendedor, o impacto da alta dos juros é imediato e cruel. Linhas de crédito que antes eram caras agora se tornam inviáveis. Quem precisa de capital de giro ou pretende expandir seus negócios verá as parcelas aumentarem significativamente. Em um país onde o financiamento bancário ainda é a principal fonte de crédito para empresas, a decisão do COPOM asfixia o crescimento e desestimula novos investimentos.  

O pequeno empresário, que já lida com burocracia e margens apertadas, sofrerá ainda mais. Se antes conseguia renegociar dívidas ou acessar crédito para sustentar o fluxo de caixa, agora se verá obrigado a cortar custos, demitir funcionários ou simplesmente desistir do negócio.  

O produtor rural e o crédito agrário em xeque

O agronegócio, setor que sustenta a balança comercial brasileira, também amarga os efeitos da alta dos juros. Muitos produtores dependem de financiamentos para custear insumos, maquinário e produção. Com a Selic mais alta, os juros do crédito rural sobem, tornando mais caro produzir alimentos e exportar commodities. Isso pode levar a aumentos de preços no mercado interno e à perda de competitividade no mercado global.  

O pesadelo do rotativo do cartão de crédito  

Se para empresários a situação já é difícil, para os consumidores endividados, a alta dos juros representa um golpe ainda maior. O Brasil já tem uma das taxas de juros mais elevadas do mundo no crédito rotativo, e com o novo aumento da Selic, a fatura do cartão de crédito se torna ainda mais impagável. Quem não consegue quitar o total da fatura no vencimento verá sua dívida crescer de forma assustadora, alimentando um ciclo de endividamento sem saída.  

O rombo nas contas públicas  

A decisão do COPOM também impacta diretamente o próprio governo. Com uma dívida pública que ultrapassa os R$ 7 trilhões, qualquer aumento na taxa de juros eleva os gastos com o pagamento de juros da dívida. Isso significa menos recursos para educação, saúde, infraestrutura e programas sociais. O governo se vê forçado a destinar uma fatia ainda maior do orçamento ao pagamento de credores, enquanto setores essenciais ficam sem investimentos.  

Quem ganha com a alta dos juros?


    Se a maioria da população perde, há um grupo que sai ganhando: o setor financeiro. Bancos e investidores em títulos públicos se beneficiam diretamente do aumento da Selic. Fundos de investimento em renda fixa, CDBs, LCIs e outros produtos atrelados à taxa básica se tornam mais rentáveis, atraindo capital especulativo e concentrando ainda mais a riqueza nas mãos de poucos.  

    Além disso, o aumento dos juros favorece o ingresso de capital estrangeiro no Brasil, já que os investidores internacionais buscam aplicações seguras com altos rendimentos. No entanto, esse dinheiro é volátil e pode sair do país tão rápido quanto entrou, sem contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável.  

    O Brasil refém do rentismo

    A política de juros altos perpetua um ciclo vicioso onde o país cresce pouco, os investimentos produtivos se tornam inviáveis e a população vê sua qualidade de vida deteriorar. Enquanto o Brasil continuar refém dessa lógica financeira, onde a estabilidade monetária se sobrepõe ao crescimento econômico, o desenvolvimento real seguirá como um sonho distante.  

    A decisão do COPOM de elevar a Selic em 1 ponto percentual pode até ser justificada pelo objetivo de controlar a inflação, mas seu custo social é elevado e desproporcional. O aumento dos juros penaliza os setores produtivos, aumenta o endividamento das famílias e limita a capacidade de investimento do governo, enquanto beneficia apenas uma pequena parcela da população e do mercado. Em um momento em que a economia brasileira ainda tenta se recuperar dos impactos da pandemia e enfrenta desafios estruturais, medidas como essa só ampliam as desigualdades e dificultam o caminho para um crescimento sustentável e inclusivo.

    A Tribuna da Imprensa defende que é preciso buscar alternativas à política de juros altos, que historicamente tem se mostrado ineficaz para resolver os problemas estruturais da economia brasileira. É urgente pensar em políticas que equilibrem o controle da inflação com o estímulo à produção e ao emprego, garantindo que o custo do ajuste econômico não recaia sempre sobre os mais vulneráveis.

    O COPOM pode até comemorar a "âncora monetária", mas o que o povo vê é um país onde empreender, produzir e consumir se torna cada vez mais difícil. No fim, o preço da decisão recai sobre quem menos pode pagar.



    FONTE: Tribuna da Imprensa (tribuna.com.br)

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