Gil Messias na APL - por Chico Viana

Gil Messias na APL - por Chico Viana
28/07/2025

Muito justa a eleição de Gil Messias para a APL. Cronista e poeta de reconhecidos méritos, ele associa tais virtudes ao irrepreensível caráter e à abertura ao convívio fraternal com as pessoas. Seu nome sem dúvida engrandece a instituição.
Transcrevo abaixo trechos do artigo que escrevi quando do lançamento do seu livro de crônicas “Entre a aldeia e o mundo”, título que bem traduz os limites do seu percurso como homem e escritor:

“A obra é sobretudo o reflexo de leituras, e por esse aspecto tem um cunho de erudição que, em princípio, não se coaduna com o gênero crônica. Comumente se associa tal gênero a assuntos ligeiros, próprios para entreter o leitor numa linguagem o mais próxima possível da oralidade. Um dos pontos altos do livro, no entanto, é justamente a perícia do autor em nos transmitir suas reflexões, ponderações, juízos com leveza. Também nesses textos há o bate-papo, mas num nível adequado às matérias de que tratam. Escritas numa linguagem irrepreensível, na qual elegância e clareza andam de mãos dadas, as c rônicas são luminosos recortes em que aprendemos muito sobre a História, a literatura e sobretudo o ser humano. (...)
“Nas apreciações que faz sobre as personalidades que figuram no livro, nota-se a preocupação em acentuar o vínculo entre a obra e o homem. Gil é desses para quem os dois não se descolam, uma é reflexo do outro. Essa maneira de avaliar as pessoas torna ricos e por vezes imprevisíveis os perfis. São retratos marcados por uma empatia que se reflete no estilo. Um exemplo é esta passagem, em que o autor comenta crônica de Ferreira Gullar sobre umas bananas que apodreceram na quitanda de seu pai: “A visão dourada e o cheiro açucarado daquelas bananas que, num cesto ou no balcão, esperavam o comprador que não vi nha, penetraram os olhos e o nariz da criança que ali começava a se deparar com o cru espetáculo da putrefação, do desfazimento das coisas, da precariedade do mundo.” A riqueza das sinestesias, o uso preciso dos adjetivos e a reflexão filosófica provocada pela deterioração dos prosaicos frutos confirmam a perícia literária.”


FONTE: Facebook

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