
Com Selic em 15% ao ano, atividade encolhe pela terceira vez seguida e governo vê seus esforços em crédito, renda e investimento anulados pela política monetária
Publicado 15/09/2025 12:49 | Editado 15/09/2025 14:13

O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (15) que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) recuou 0,5% em julho, na comparação com junho. Foi a terceira queda mensal consecutiva, confirmando que a economia entrou em trajetória de desaceleração. O tombo veio mais forte do que o esperado pelo mercado, que projetava contração de 0,2%.
Por trás do resultado está um quadro preocupante: todos os setores apresentaram retração — agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%). O sinal é claro: com a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamar elevado, em conjunto com o arcabouço fiscal, a engrenagem produtiva do país já roda em marcha lenta.
Na comparação com julho de 2024, houve crescimento de 1,1%, mas o dado não dessazonalizado ainda esconde a perda de fôlego no curto prazo. No acumulado em 12 meses, o índice mostra alta de 3,5%, reflexo do bom desempenho do primeiro semestre.
Enquanto o governo tenta reativar a economia com crédito subsidiado, investimentos em infraestrutura e programas de aumento de renda, a Selic a 15% age como freio de mão puxado. A taxa, a mais alta em quase 20 anos, restringe o consumo das famílias, encarece o financiamento das empresas e bloqueia investimentos privados.
A Fazenda, que em julho projetava expansão do PIB em 2,5%, já reduziu a previsão para 2,3%. O mercado financeiro está ainda mais pessimista: aposta em apenas 2,16% de crescimento em 2025, contra os 3,4% registrados no ano passado.
O resultado chega às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa Selic em 15% ao ano. O BC castiga a economia com alegando um suposto “risco de inflação persistente” e a necessidade de “moderar” o ritmo da crescimento.
O Banco Central insiste que manter a economia em marcha lenta é “necessário” para controlar a inflação. O argumento é que o chamado hiato do produto — a diferença entre o que o país pode produzir e o que de fato produz — ainda é positivo, o que justificaria juros elevados por um longo período.
Na prática, porém, a estratégia significa sacrificar setores produtivos inteiros, retardar a geração de empregos de qualidade e adiar investimentos que poderiam aumentar a capacidade industrial e agrícola do país. É uma política de contenção que cobra caro da sociedade.
A sinalização é de que os juros devem permanecer altos por um período prolongado, com cortes apenas em 2026, segundo projeções do mercado financeiro. A estratégia, no entanto, cobra preço imediato em consumo, crédito e investimento.
Embora o mercado de trabalho ainda mostre resiliência, com desemprego em níveis historicamente baixos, a tendência é de enfraquecimento caso a política de juros não mude. O Brasil corre o risco de perder um ciclo de crescimento que poderia ser impulsionado por investimentos públicos e privados já anunciados, mas travados pela falta de crédito acessível e endividamento das empresas, das famílias e do próprio Tesouro Nacional.
O governo, ao ampliar linhas de financiamento e apostar em infraestrutura, tenta criar as condições para aumentar a produtividade. Mas a política monetária atua na direção oposta: esvazia o consumo, reprime a produção e desestimula o investimento. Simultâneo a isso, os ricos especuladores se beneficiam de um sistema financeiro baseado em ótima oferta de juros sobre aplicações.
O resultado é um impasse: o país tem capacidade produtiva, condições fiscais mais organizadas e programas de estímulo em andamento, mas está paralisado pelo peso dos juros. Se a Selic permanecer em 15% até 2026, como projetam os bancos, o Brasil corre o risco de viver um longo período de baixo dinamismo, desperdiçando oportunidades e mantendo a população refém de uma economia travada.
A queda do IBC-Br é mais do que um dado estatístico: na prática, o governo enfrenta dificuldade em transformar avanços fiscais e programas de estímulo em crescimento sustentável, já que a política monetária atua como trava. A economia brasileira caminha, assim, em um cenário de baixo dinamismo, onde cada avanço dependerá de disputas entre as agendas de estímulo e contenção.
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