Clemente Rosas é um
intelectual destemido; que, de vez em quando, seja irreverente em seus escritos
é consequência da sua límpida honestidade intelectual. Ativista político desde
a juventude, já demonstrava naqueles perigosos tempos a lucidez e coragem que
lhe são características até hoje.
E fez isso não apenas
por participar – como quadro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dirigente
da União Nacional dos Estudantes (UNE) – da resistência ao golpe militar de
1964. No período seguinte ao AI-5, nos chamados “anos de chumbo”, quando essa
mesma juventude militante radicalizou em direção à luta armada e passou a
tratar com grande desprezo o PCB com sua linha política de resistência não
armada, o jovem Clemente continuou consequente e firme com a linha do
“Partidão” (nome dado ao PCB, com intenções pejorativas, pela esquerda radicalizada).
Sendo muitas vezes uma
literatura de confrontos, os escritos de Clemente são igualmente envolventes e
empolgantes.
Tratando agora do livro
ENSAIOS IRREVERENTES (João Pessoa: Editora A União, 2025), lançado em
16/05/2025 na Livraria A União, começarei por uma polêmica sobre o singular
Guimarães Rosa, que o também singular Clemente Rosas contesta.
Clemente estende essa
polêmica por mais de um capítulo. Um destes, intitulado “Rosas versus Rosa: um
match amistoso” é um artigo de Luciano Oliveira que refuta o Rosas em favor do
Rosa.
Cito Luciano Oliveira: “Mas por que um match amistoso entre os
dois? Porque Clemente, o Rosas não gosta (ou gosta muito pouco) de Guimarães, o
Rosa”.
É formidável que um
autor traga para a sua polêmica a íntegra de um texto que lhe é contrário. E
eis aqui; nessa pendenga fiquei a favor de Luciano Oliveira: eu gosto muito de
Guimarães Rosa.
No referido texto me
pegou de surpresa a coincidência na maneira de como eu e este outro admirador
embarcamos na leitura do “Grande Sertão: Veredas”. Cito Oliveira: “O começo foi penoso... Pois não é que
terminei gostando”.
Eu mesmo, quando tentei
ler o “Grande Sertão” desisti logo. Não demorou, fui ler de novo e de novo
desisti. Até que, não sei por que, na terceira tentativa fui gostando e fui
arrastado até ao fim arrebatador.
É bem motivadora a
leitura dos ENSAIOS IRREVERENTES. Em outro capítulo do livro, o autor volta a
polemizar com Luciano Oliveira – que é mestre e doutor em Sociologia – sobre
outro “monstro sagrado”, o badaladíssimo francês Michel Foucault; que Oliveira
tinha posto nas alturas e a quem o Rosas cuida de trazer para o chão dos sectarismos
em moda.
Desta vez fiquei do
lado do Rosas na contestação da elogiosa análise do Oliveira. Com efeito, não
gosto das teorias de Foucault.
Essa – mais uma –
polêmica levantada pelas irreverências de Clemente será assunto de um próximo
artigo aqui nesta coluna Rocha 100.
Enquanto isso, vocês
vão lendo os ENSAIOS IRREVERENTES. Quem ainda não possuir o livro, pode adquirir na
Livraria A União (ou pedir emprestado; eu fui ao lançamento e vi que muita
gente comprou).
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