Rocha 100
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Ensaio reverente sobre os ENSAIOS IRREVERENTES de Clemente Rosas

Por: | 15/06/2025


 

Clemente Rosas é um intelectual destemido; que, de vez em quando, seja irreverente em seus escritos é consequência da sua límpida honestidade intelectual. Ativista político desde a juventude, já demonstrava naqueles perigosos tempos a lucidez e coragem que lhe são características até hoje.

E fez isso não apenas por participar – como quadro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) – da resistência ao golpe militar de 1964. No período seguinte ao AI-5, nos chamados “anos de chumbo”, quando essa mesma juventude militante radicalizou em direção à luta armada e passou a tratar com grande desprezo o PCB com sua linha política de resistência não armada, o jovem Clemente continuou consequente e firme com a linha do “Partidão” (nome dado ao PCB, com intenções pejorativas, pela esquerda radicalizada).

Sendo muitas vezes uma literatura de confrontos, os escritos de Clemente são igualmente envolventes e empolgantes.

Tratando agora do livro ENSAIOS IRREVERENTES (João Pessoa: Editora A União, 2025), lançado em 16/05/2025 na Livraria A União, começarei por uma polêmica sobre o singular Guimarães Rosa, que o também singular Clemente Rosas contesta.

Clemente estende essa polêmica por mais de um capítulo. Um destes, intitulado “Rosas versus Rosa: um match amistoso” é um artigo de Luciano Oliveira que refuta o Rosas em favor do Rosa.

Cito Luciano Oliveira: “Mas por que um match amistoso entre os dois? Porque Clemente, o Rosas não gosta (ou gosta muito pouco) de Guimarães, o Rosa”.

É formidável que um autor traga para a sua polêmica a íntegra de um texto que lhe é contrário. E eis aqui; nessa pendenga fiquei a favor de Luciano Oliveira: eu gosto muito de Guimarães Rosa.

No referido texto me pegou de surpresa a coincidência na maneira de como eu e este outro admirador embarcamos na leitura do “Grande Sertão: Veredas”. Cito Oliveira: “O começo foi penoso... Pois não é que terminei gostando”.

Eu mesmo, quando tentei ler o “Grande Sertão” desisti logo. Não demorou, fui ler de novo e de novo desisti. Até que, não sei por que, na terceira tentativa fui gostando e fui arrastado até ao fim arrebatador.

É bem motivadora a leitura dos ENSAIOS IRREVERENTES. Em outro capítulo do livro, o autor volta a polemizar com Luciano Oliveira – que é mestre e doutor em Sociologia – sobre outro “monstro sagrado”, o badaladíssimo francês Michel Foucault; que Oliveira tinha posto nas alturas e a quem o Rosas cuida de trazer para o chão dos sectarismos em moda.

Desta vez fiquei do lado do Rosas na contestação da elogiosa análise do Oliveira. Com efeito, não gosto das teorias de Foucault.

Essa – mais uma – polêmica levantada pelas irreverências de Clemente será assunto de um próximo artigo aqui nesta coluna Rocha 100.

Enquanto isso, vocês vão lendo os ENSAIOS IRREVERENTES. Quem ainda não possuir o livro, pode adquirir na Livraria A União (ou pedir emprestado; eu fui ao lançamento e vi que muita gente comprou).    

     


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