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Clemente Rosas X Michel Foucault

Por: | 29/06/2025

Clemente Rosas X Michel Foucault

 

Michel Foucault é o mais badalado dos chamados pós-modernistas. Lembro que, lá pela última década do século passado e primeira década deste século 21, esse francês demolidor virou mania; com próceres do meio acadêmico e intelectuais militantes disputando espaço para os elogios e adulações.

“Monstro sagrado” seria pouco para Foucault. De qualquer modo, não haveria de escapar à irreverência crítica de Clemente Rosas.

No capítulo “Aquários, cavernas e gaiolas” dos seus Ensaios Irreverentes, Clemente aproveita um livro onde o francês é enaltecido – “O Aquário e o Samurai – Uma Leitura de Michel Foucault” – de autoria do amigo Luciano Oliveira, com quem já vinha desenvolvendo um amistoso embate, para mirar sua crítica em Foucault.

Com Michel Foucault, Clemente Rosas não é amistoso. Vejam esta pancada, com que também machuca uma legião de aduladores:

“É surpreendente como o instável autor, além de pontificar em aulas assistidas por multidões no Collége de France, tenha também sido acolhido em nosso mundo acadêmico de maneira tão acrítica. Parece até que nossas academias têm gosto pela novidade, pelo inusitado, ainda que o novidadeiro seja depois desmentido em razão de novas experiências de vida, como veremos a seguir”.

E o irreverente segue demolindo o demolidor.

Crítica a Michel Foucault no Brasil é coisa rara. Com a crueza apresentada no artigo em tela, eu nunca tinha visto. Algo parecido vi apenas na crítica do marxista norte-americano Marshall Berman, no livro “Tudo Que É Sólido Desmancha No Ar”, onde a obra de Foucault é tratada como uma inutilidade deletéria. Do longo e acerbo trecho cito apenas esta punhalada:   

“Foucault reserva seu mais selvagem desrespeito às pessoas que imaginam ser possível a liberdade para a moderna humanidade”.

Contrariamente ao pessimismo pós-moderno, Clemente Rosas é otimista quanto aos poderes libertadores da razão; embora, considero eu, de um racionalismo salutarmente moderado, um tanto ao estilo de Kant. Não é de estranhar, portanto, que se impaciente com as inconsequências foucaultianas. Vejam isto:

“Aliás, antecipemos, a atitude de Foucault em relação à sociedade é bem sectária: não admite que tenha havido nenhum progresso nas relações humanas, no que se refere ao controle das ações antissociais”.

Quero corroborar a crítica de Clemente com um comentário próprio; talvez redundante, mas vá lá.

Foi principalmente a esquerda que se deixou cativar pelo desconstrucionismo foucaultiano, passando a vender no varejo acadêmico e midiático postulações tão belas quanto social e politicamente inviáveis. Não toda a esquerda, claro, mas uma parte bastante extensa e ativa da esquerda mundial foi arrebatada numa onda de devaneios que se estende até hoje. Se tivesse se ocupado em elaborar propostas menos vistosas e um pouco mais eficientes, talvez não estivesse amargando a decadência acelerada que abriu espaço para o recrudescimento da extrema-direita em escala planetária.

Por fim, volto a recomendar que adquiram o livro:

ENSAIOS IRREVERENTES – Clemente Rosas

Livraria A União/Espaço Cultural.      


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