Clemente Rosas X Michel Foucault
Michel Foucault é o mais badalado dos chamados
pós-modernistas. Lembro que, lá pela última década do século passado e primeira
década deste século 21, esse francês demolidor virou mania; com próceres do
meio acadêmico e intelectuais militantes disputando espaço para os elogios e
adulações.
“Monstro sagrado” seria pouco para Foucault. De
qualquer modo, não haveria de escapar à irreverência crítica de Clemente Rosas.
No capítulo “Aquários, cavernas e gaiolas” dos seus Ensaios
Irreverentes, Clemente aproveita um livro onde o francês é enaltecido – “O
Aquário e o Samurai – Uma Leitura de Michel Foucault” – de autoria do amigo
Luciano Oliveira, com quem já vinha desenvolvendo um amistoso embate, para
mirar sua crítica em Foucault.
Com Michel Foucault, Clemente Rosas não é amistoso.
Vejam esta pancada, com que também machuca uma legião de aduladores:
“É
surpreendente como o instável autor, além de pontificar em aulas assistidas por
multidões no Collége de France, tenha também sido acolhido em nosso mundo
acadêmico de maneira tão acrítica. Parece até que nossas academias têm gosto
pela novidade, pelo inusitado, ainda que o novidadeiro seja depois desmentido
em razão de novas experiências de vida, como veremos a seguir”.
E o irreverente segue demolindo o demolidor.
Crítica a Michel Foucault no Brasil é coisa rara.
Com a crueza apresentada no artigo em tela, eu nunca tinha visto. Algo parecido
vi apenas na crítica do marxista norte-americano Marshall Berman, no livro “Tudo
Que É Sólido Desmancha No Ar”, onde a obra de Foucault é tratada como uma
inutilidade deletéria. Do longo e acerbo trecho cito apenas esta punhalada:
“Foucault
reserva seu mais selvagem desrespeito às pessoas que imaginam ser possível a
liberdade para a moderna humanidade”.
Contrariamente ao pessimismo pós-moderno, Clemente
Rosas é otimista quanto aos poderes libertadores da razão; embora, considero
eu, de um racionalismo salutarmente moderado, um tanto ao estilo de Kant. Não é
de estranhar, portanto, que se impaciente com as inconsequências foucaultianas.
Vejam isto:
“Aliás,
antecipemos, a atitude de Foucault em relação à sociedade é bem sectária: não
admite que tenha havido nenhum progresso nas relações humanas, no que se refere
ao controle das ações antissociais”.
Quero corroborar a crítica de Clemente com um
comentário próprio; talvez redundante, mas vá lá.
Foi principalmente a esquerda que se deixou cativar
pelo desconstrucionismo foucaultiano, passando a vender no varejo acadêmico e
midiático postulações tão belas quanto social e politicamente inviáveis. Não
toda a esquerda, claro, mas uma parte bastante extensa e ativa da esquerda
mundial foi arrebatada numa onda de devaneios que se estende até hoje. Se tivesse
se ocupado em elaborar propostas menos vistosas e um pouco mais eficientes,
talvez não estivesse amargando a decadência acelerada que abriu espaço para o recrudescimento
da extrema-direita em escala planetária.
Por fim, volto a recomendar que adquiram o livro:
ENSAIOS IRREVERENTES – Clemente Rosas
Livraria A União/Espaço Cultural.
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