Archidy Picado Filho
Archidy Picado Filho
Archidy Picado Filho

EU E JESUS (PRIMEIRA PARTE)

Por: | 12/07/2025

Nasci e, até os dez anos de idade, cresci e me formaram numa família cristã.

A Bíblia estava sempre presente, aberta em cima de algum móvel da casa de minha avó paterna, Adventista do Sétimo Dia, ou sendo citada por ela, minha mãe e meu pai (que, um tanto existencialista niilista, apesar de sua formação cristã, considerava razoável a sabedoria de Jesus); apesar de certos comportamentos contraditórios aos que sugerem os evangelistas a fim de que demos “o exemplo de Cristo”, ou ser sua “imitação” (não produzindo a imitação a mesma substância “espiritual” que proporciona a conversão realizada “com o fogo do Espírito Santo”), naturalmente baseados nos ensinamentos teóricos e, principalmente, práticos do que me disseram ter dito e feito Jesus.

Contaram-me Jesus ter sido concebido no útero de uma virgem por um tal “Deus” que, munido de todos os poderes possíveis, e do pleno domínio do impossível, aquém do Universo (ou do multiverso), para muito além dele (ou deles), depois de eras observando o destino de sua criação (ou, substancialmente considerando, de seu próprio), resolve vestir-se da carne e dos ossos que moldou “do barro” e munir-se de um sistema nervoso que, mesmo que o tenhamos considerado um super-homem, o deixara um tanto abalado com o cotidiano de suas crias; pela expectativa de sua violenta morte iminente a tal ponto de fazê-lo chorar lágrimas de sangue e pedir ao (seu) Pai para não morrer!

“Afasta de mim este cálice”, pediu Jesus, mas reconheceu sua impossibilidade de fugir do destino que a Vida nos impõe. Porque a morte é para todos. Porém sem que, da perspectiva divina, importe a forma como iremos (ou irá) morrer, para a Vida a morte é nada e é no infinito espaço do nada (ou à sua impossível dominação) que a Vida se impôs e se impõe a partir do que aprendemos a considerar “Luz”.

“Faça-se a luz”, aprendi ter sido o primeiro dos criativos mandamentos do divino aos seus secretários Eloins.

Mais do que nós, as estrelas são “as carnes” luminosas, expressões formais, objetivas, deste poderoso Verbo, embora não haja nada mais luminoso do que a Consciência; e, mais, a consciência individualizada, um reflexo singelo da que tudo administra, esclarecida pelos que, iluminados, tornaram-se faróis iluminantes; iluminadores de um caminho que sequer é escuro o suficiente para os cegos de nascença!

Somando tudo, me mostraram quanto é difícil “tornar o Verbo carne”. Principalmente o verbo Amar. Porque, contradizendo Talião e Moisés (que se baseou naquele para idealizar certas leis onde justifica a vingança), Jesus quer que amemos os inimigos; que demos o outro lado do rosto a quem nos esbofetear ou esmurrar, perdoando-o todos os males feitos até a exaustão; e mesmo que mate um de nossos mais queridos e queridas! Portanto, amar os inimigos até mesmo mais do que amamos os amorosos, os que nos são queridos, muitas vezes, apenas porque nos dão conforto.

Afinal, o que ganhamos “no céu” se amamos só os que nos amam? - aprendi que Jesus perguntou a alguém que, entre tantas certezas, ainda era motivado pela dúvida de que ele estava ali para servir “aos doentes”; do corpo e, principalmente, aos doentes “da alma”, sem que importasse as vestes sob as quais as almas se apresentavam.

Porque rico não é quem tem muito dinheiro no banco e goza dos benefícios de seu valor – aprendi – mas aquele que não “perdeu sua alma” em troca do que cabe às traças e aos vermes; sua essência; a substância a que aprendemos a considerar “caráter”, algo inato que, por sua vontade, somente “Deus” (do alto de sua onisciência) sabe o porquê de produzir uns inclinados ao cultivo de bens e outros, de males.

“Mas não há psicopatas assassinos canibais”, aprendi, “mas pessoas possuías por demônios, povos inteiros comandados por legiões dos filhos de Satã”, “Lúcifer”, “Belial”...

É isso que o filme NEFARIOUS (Max / HBO) quer nos fazer crer pra "justificar" a suspensão da pena de morte nos Estados Unidos, uma clara desobediência aos mais amorosos mandamentos de Deus que boa parte dos norte-americanos não judeus dizem seguir.

No fim, o medo e a ignorância tem sido mesmo o maior dos males.

“Perdoai-os, Pai, pois não sabem o que fazem”, dizem ter pedido Jesus como um brinde de boas-vindas ao Paraíso aos seus assassinos.

Talvez por isso tenham se propagado e multiplicado pelos séculos ao redor do mundo. Porque perdoar setenta vezes sete vezes tem se mostrado demais. E tudo demais é veneno.

Imagem do Google, "Jesus" na série THE CHOSEN (Prime Vídeos); aliás, entre as representações do Nazareno, o Jesus mais descontraído que já vi em filmes, tendo o Jesus de Franco Zeffirelli (em O HOMEM DE NAZARÉ) dado a mim a impressão de ter sido convocado à participação no filme diretamente do Céu!



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