Quando um dos primeiros aparelhos de TV chegou à casa de meu avô paterno, em 1968, enquanto minha avó adventista a tinha enquanto uma “máquina de fabricar loucos”, meu pai a considerava um feito “milagroso”.
“Quem não crê em milagres”, observava, “não crê na Televisão”.
Entre analistas atestadores da existência de milagres, da “dimensão mágica de Deus”, “a Vida”, toda manifestação ou eclosão dela, quaisquer de suas formas são verdadeiros milagres. E mais as da Vida que se faz enquanto os “nós” que, com auxílio da memória (um de seus poderes atávicos), ela forja pra perceber melhor toda sua diversidade existencial e pra onde encaminhar-se – já que, pelo que provamos, seu impulso natural é viver; fazer viver; preencher o nada que, por quaisquer de suas razões, motivações, por quaisquer de seus impulsos criativos ela não quer deixar imperar.
“Ela”, escrevi; e mesmo que o que chamamos “Deus” tenha feito o homem enquanto sua primeira imagem e semelhança. Porque a palavra “Deus” pode, entre cultos espiritualistas, representar o que é a Vida eterna. Porém, em si, ela não é nenhum deus ou deusa cujos status lhe conferimos.
“Tem jeito pra tudo”, dizia minha mãe. “Só não tem pra morte”; mesmo que considerasse que, quer um “Pai” ou uma “Mãe”, tudo começou, terminará e recomeçará com o que também conhecemos enquanto “Vida”, ao temido problema do término individualista da qual, inspirado no que pôde aprender e sentir (“do alto” de sua sabedoria), Jesus arranjou um jeito de superar o problema mortal: todos o que nele creem não morrerão, mas terão “a vida eterna”.
Mas, enquanto prêmio supremo belos bem feitos – e ainda não sei se quem se masturba vai para o inferno ou, por aqui, se livra dele (e de perpetuá-lo) – se masturbar não está sequer entre os mandamentos apócrifos. Entre os oficiais deístas mosaicos, dez determinam o que fazer e não fazer para conquistar o Paraíso pós morte – embora Jesus os tenha reduzido a dois. Porém, dos dois, se o primeiro não se realiza (“Amar a Deus sobre todas as coisas”), obedecer os outros evita muitos males; mesmo que, na substancial dimensão espiritual, não importem tanto à verdadeira conversão.
Entre budistas, são milhares de sugestões (ou mandamentos) do que devemos e, principalmente, do que não devemos fazer para alcançar a paz e sair da roda do samsara (cessação dos desejos e do ciclo de nascimentos e mortes eternas de um “eu” que, no final, não será nenhum de nós; a libertação final; o “nirvana”). E tudo depende de nossos esforços, não havendo deuses ou anjos no budismo que possam nos auxiliar à tarefa – apesar de supersticiosos “budistas” crerem que, existindo ainda em alguma dimensão da Vida, Buda os ajuda, principalmente, a ganhar dinheiro! Como também pensam muitos que se creem “cristãos”. Porque, para eles, Deus é um bom banqueiro.
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