Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa

Elizabeth na Continente Multicultural

Por: | 27/07/2025

Letra Lúdica

Hildeberto Barbosa Filho
Elizabeth na Continente Multicultural

A sensibilidade e a inteligência do editor Mário Hélio faz com que a revista Continente Multicultural, atenta ao desafio da diversidade, já implícita no título, contemple, em suas páginas, a presença intelectual e artística de paraibanos.

Mario Hélio, ele mesmo um paraibano (de Sapé), embora radicado, há muito tempo, em Pernambuco. Homem de mentalidade aberta, de ampla cultura, desenvolto no manuseio da palavra, oral e escrita, sempre no exercício crítico face às múltiplas linguagens com que lida no seu métier de antropólogo, historiador, poeta e editor. Soube, portanto, em tempo oportuno, perceber a grandeza de seus pares conterrâneos.

Chico Pereira, Raul Córdula, Flávio Tavares, Thélio Queiroz Farias, Lucy Alves e Elizabeth Marinheiro são alguns dos nomes que comparecem nos últimos números da prestigiada revista, quer como colaboradores, quer como objetos de ensaio crítico, reportagem ou perfil.

No exemplar de junho-agosto, destaco a matéria, “Pioneirismo e teimosia”, sobre Elizabeth Marinheiro, com texto de Carol Botelho e fotos de Leopoldo Conrado Nunes, a abordar aspectos essenciais a respeito da notavel professora e estudiosa da literatura brasileira e da teoria literária.

Alguns assuntos explorados me chamaram a atenção pela pertinência e seriedade do tratamento crítico que a entrevistada imprime às suas respostas. Sempre alicerçadas em bases teóricas sólidas e persuasivas.

Elizabeth Marinheiro não tergiversa nem se vale de fofos eufemismos para fazer certas afirmações, como, por exemplo, esta: “Em termos de leitura, somos subdesenvolvidos. Em ambientes universitários as pessoas desconhecem até autores locais”.

Assino embaixo. Do ponto de vista da leitura literária, a universidade, ou melhor, os Cursos de Letras, salvo raríssimas exceções, quando não sucumbem ao peso do cânone consagrado, procuram apostar no canto de sereia do politicamente correto. São quase sempre indiferentes ao entorno local, a seus escritores, críticos e poetas.

Em outra passagem, bem a seu modo, decidido e corajoso, assinala: “A comunicação nacional só se fará quando as literaturas regionais chegarem, igualmente, aos grandes centros”.

Sem dúvida. Enquanto não se incorporar ao mapa da história da literatura os valores periféricos, as contribuições regionais, as presenças indígenas, afrodescendentes e outras correntes migratórias, ter-se-á apenas um simulacro ilusório da complexidade histórica e literária do país.

Em outro momento, considerando a figura do crítico literário, afirma: “Crítico que não termina com ponto de vista pessoal não é crítico”.

Perfeito. O crítico de verdade não dispensa o método nem a teoria; não esconde seus fundamentos nem seus instrumentos comparativos; faz a análise e constrói uma interpretação. Porém, nunca foge à exigência de um juízo avaliativo. E é aí que ele, o crítico, aparece com o seu pensamento próprio, com seu gosto e escolhas depuradas.

Elizabeth Marinheiro, entre outras virtualidades que detém na sua trajetória intelectual, é essa voz crítica capaz de pensar por si mesma e que, por isto mesmo, deixa, aos que amam a literatura, um legado precioso e definitivo.

(Publicado hoje, 25/07/25, em A União)


FONTE: Facebook - Acesse

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