Waldemar José Solha
Waldemar José Solha
Waldemar José Solha

PENSE GRANDE COMO O PARAIBANO ARIANO SUASSUNA.

Por: | 20/08/2025

PENSE GRANDE COMO O PARAIBANO ARIANO SUASSUNA.

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Quando – em 97 - chegou a vez de pintar ( no retângulo de vinte e tantos metros quadrados que está no auditório da reitoria da UFPb ) a tela que faria referência à peça de Shakespeare “As You Like It” (que uns vertem para “Como quiserdes”, outros para “Como Gostais”), pensei imediatamente na figura de Ariano Suassuna no papel do personagem Touchstone, o grande “professional clown” do Bardo. A primeira imagem que me acudiu, nesse momento, foi a que sempre estava abrindo seus geniais ensaios na revista BRAVO. Sapequei-lhe um chapelão vermelho e uma gola sanfonada – tudo bem século XVII - e lá estava a cara marota do nosso grande escritor mais uma vez "eternizada”, agora ao lado de Júlio César, Hamlet, Julieta, Cleópatra, Ricardo III, etc, etc.

Não foi, no entanto, apenas a identidade histriônica Ariano/Touchstone que me fez juntá-los numa só figura. O que me pegou, no texto shakespeariano, também, foi esse nome – “Touchstone”, “Pedra de Toque” – que era o jaspe, quartzo ou basalto utilizado antigamente para riscar uma liga metálica, ouro ou prata, a fim de avaliar seu grau de pureza. Isso porque Ariano tornou-se pedra de toque no que se refere à pureza de nossa nordestinidade. O homem dizia que não trocava o seu oxente pelo OK de ninguém e, na verdade, dificilmente a Paraíba, o Nordeste, o Brasil e América Latina poderiam produzir alguém mais autêntico, mais radical na defesa de uma arte ligada às nossas raízes, ao nosso Eu, seja na literatura e no teatro, como no cinema, na música, na pintura, escultura, na poesia, na dança. Tudo, entretanto, de um modo “clownesco”. O foco da graça ariana estava no aproveitamento do equívoco, segundo ele, do lado Science de todo Chico de que o país está cheio , num jogo de cintura tão magistral, que fez com que ele mesmo contornasse o perigo e, com o peso de seu teatro, de seus romances, de seus ensaios, de seu Movimento Armorial, de sua história-de-vida, de suas aulas-espetáculos, de sua intensa agitação cultural, tivesse um final de vida raramente tão glorioso, apoteótico para um artista, com direito a samba-enredo no Rio e a ver A Pedra do Reino adaptada para o teatro pelo Antunes, e para a televisão pelo Luis Fernando Carvalho. Como foi gostoso homenageá-lo também, depois, no libreto que fiz da ópera amorial DULCINEIA E TRANCOSO, do Eli-Rri Moura, que depois transformei no "rimance" A ENGENHOSA TRAGÉDIA DE DULCINEIA E TRANCOSO.

Ante ele me curvo, no que tiro meu próprio chapéu enorme, de mosqueteiro, arrastando minhas próprias plumas no chão.

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( Da auto b/i/o grafia que estou montando )


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