Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa

O melhor do verso, em Janaína Araújo

Por: | 04/09/2025

Pensamentos Provisórios

O melhor do verso, em Janaína Araújo, está na conexão do prazer experimentado na fluidez do real com o prazer curtido na espessura dos vocábulos. Mesclando sensualidade e telurismo, sua voz lírica se distende, às vezes excessiva, às vezes lacônica, quase sempre sutil e delicada, pelo corpo da linguagem, sem temer os vocativos da volúpia, no tecido existencial, nem os ingredientes inesperados que brotam da memória ou da imaginação, se levo em conta, sobretudo, o mundo representado. Nascida em Monteiro (PB), a poeta tem o sotaque caririzeiro dos ventos e o ardente calor da terra, assim como o erotismo das largas paisagens acariciadas pelo sol e sua febre fertilizante. Seu livro de estreia, caçadora de pedras e cobras (João Pessoa: Dromedário, 2024), pode atestar, em fundo e forma, o que afirmo aqui. Eis alguns versos de uma ínfima antologia, feita ao acaso do gosto e do espanto estéticos, que podem sinalizar para a fartura do seu elemento intuitivo e criador: “ao invés de terminar o doutorado / fiz poesia”; “na verdade, tinha medo de ser abandonado / por si mesmo”; “e aquele calor entrava por baixo / aquecia as / pernas da alma // ali, não tinha poesia”, e “nesta casa cheia de porcos e muitas camas, / as meninas se encontravam no quarto do meio / onde existia um mundo particular”. Ao olhar feminino, marcado por uma suave e insinuante obliquidade, se associa a configuração poética da linguagem, para consumar, na cadência especial de cada poema, a presença orgânica e espiritual da mulher diante das experiências vividas. Experiências de dor e prazer, de aprendizado e descoberta, de júbilo e sagração. Para quem se inicia nos íngremes desfiladeiros do Parnaso, o percurso não poderia ser melhor.


FONTE: Facebook - Acesse

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