Quando eu vejo tantos bolsonaristas, trumpistas e admiradores de Netanyahu comentando minhas postagens com grosseiras agressões verbais, acentuo a liberdade que têm de fazê-lo, pois me lembro de minha primeira peça - de 68 -, a respeito do então recente assassinato do estudante Édson Luís - sendo proibida logo depois de seu lançamento, pelo subsequente AI-5, "por ferir a dignidade da pátria e ser capaz de levantar os ânimos da juventude", clima que atingiu o ridículo quando o escritor Marcos Luís, no que lhe devolvi um livro com o nome de Marx na capa, me disse que o embrulhasse. "Por que?" "Porque um amigo meu foi preso por ter nas mãos um livro sobre cubismo!" Dois anos depois, fui chamado à Censura por causa de uma adaptação que fizera da "Antígona!" de Sófocles.
- Tem que mudar o título.
- Por que?
- Porque esse Sófocles não vai gostar disso.
Na dúvida se me gozava ou falava sério, mudei o nome do espetáculo, que jamais foi proibido nem liberado.
Em 74, meu primeiro romance, "Israel Rêmora" ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia e outro livro meu, "A Canga" obteve menção especial. A poeta Stella Leonardos, que fizera parte da comissão julgadora, me revelou que "A Canga" fora escolhida por unanimidade, mas - temendo a ditadura -, premiaram o outro, lançado no ano seguinte pela Record.
Aí eu penso no quanto bolsonaristas, trumpistas e admiradores de Netanyahu são livres para agredir verbalmente quem não concorda com eles e acho maravilhoso que... tenham a liberdade de fazê-lo, coisa que, na volta do que procuram, me seria... novamente, vetado.
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