Por: | 08/09/2025
Lúdica
Hildeberto Barbosa Filho
Augusto, um poeta único!
‘A parte a singularidade do texto em si, Augusto dos Anjos é um poeta incomum, considerados alguns fatores da vida literária.
A
princípio, depois de publicado o Eu, em 1912, no Rio de Janeiro, o livro não foi bem recebido nem bem compreendido pela crítica de então. Salvo uma que outra nota jornalística de caráter elogioso, em geral a reação foi de espanto, desconforto e até de desdém e deboche.
Aos poucos, no entanto, e, sobretudo, após a terceira edição, o quadro foi mudando. A crítica especializada acabou reconhecendo a grandeza estética de sua poesia inconfundível, através de análises e estudos fundamentados em métodos e conceitos teóricos de valor indiscutível.
Nomes como Gilberto Freyre, Manuel Cavalcanti Proença, Eudes Barros, Antônio Houaiss, Ferreira Gullar, Lúcia Helena, José Paulo Paes, Chico Viana e tantos outros respondem pela riqueza e qualidade de sua fortuna crítica.
Augusto dos Anjos também foi “salvo pelo povo”, na feliz observação de Fausto Cunha. O Eu é um livro lido, decorado, recitado e amado pelos leitores e ouvintes mais simples, dentro do ritmo anódino da vida cotidiana.
Este mesmo povo o elegeu a personalidade do século vinte na Paraíba, em meio a pesos pesados da política e da cultura, a exemplo de um Pedro Américo, de um Epitácio Pessoa, de um Ariano Suassuna, de um José Lins do Rego, de um José Américo de Almeida e de um João Pessoa.
De outra parte, o poeta do Tamarindo tem sido objeto de homenagens e reverências por parte de instituições, efemérides e eventos culturais. A UFPB, por meio do Departamento de Música, recentemente o distinguiu como homenageado da oitava versão do Festival Internacional de Música de Câmera, numa conexão entre música e poesia das mais ricas e criativas.
Augusto dos Anjos, como nenhum outro poeta brasileiro, vê-se reconhecido e admirado pelos seus pares, decantado em poemas nos quais aparece como motivo seminal.
Não foi tópica de enredo para escola de samba, como o foi Carlos Drummond de Andrade, por exemplo. No entanto, até onde alcança o meu conhecimento, nenhum poeta brasileiro possui a glória particular de ser cantado pelos seus pares em textos que o elegem como tema, que com ele dialogam ou que a ele fazem referência, numa demonstração da força estimulante de sua dicção lírica.
Não são poucos os poetas que o enaltecem. Maiores, medianos e menores pagam, aqui e ali, o devido tributo ao legado poético que ele deixou como fonte inesgotável de criação.
Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto, Marcus Accioly, Flávio Moreira da Costa, Lenilde Freitas, Sérgio de Castro Pinto, Sinésio Guimarães, Adabel Rocha, Ariano Suassuna, José Nêumanne Pinto, Águia Mendes, Astier Basílio, Luciano Maia e muitos mais formam na fileira dos que escreveram versos para o poeta do Pau d’ Arco.
Isso, de certa maneira, faz de Augusto dos Anjos um poeta singular. Um poeta forte, um poeta único.
(Publicado hoje, dia 7 de setembro, em A União)