Waldemar José Solha
Waldemar José Solha
Waldemar José Solha

Nada que mudasse o mundo, mas que me mudou bastante

Por: | 09/09/2025

Um dos períodos mais deslumbrantes de minha vida foi o que tive na segunda metade dos anos 60, em Pombal, indo dormir à meia-noite e despertando às 3, para ler o máximo que pudesse – já que o dia me era todo tomado pelo exercício da subgerência do Banco do Brasil ... e pela vida em família – Ione e nossos filhos Alexei Dmitri ( de 66 ) e Andréia ( de 67 ). Pense no que foi me deparar com o julgamento de Cristo e Barrabás n’A República de Platão, quatro séculos antes da hora, num suposto julgamento entre um homem perfeitamente justo e outro, injusto, em que o segundo terminaria livre, o outro, na cruz - ou empalado, como vi noutra versão. Pense no que foi ver que em sua derradeira noite, Desdêmona conta a história matriz da de Ofélia e Hamlet – a da criada Bárbara e seu amante doidela, com a jovem morrendo afogada no rio, sob um mesmo salgueiro - como... premonição da morte da própria veneziana, em seguida, nas mãos de Otelo, o Mouro – the Moor ( palavra que vi, iluminado, também significar charco, pântano ). E pense no que foi dar com algo como o droide dourado - C3PO - de Star Wars ( o primeiro da série que somente veríamos em 77 ), na Ilíada de Homero ( escrita por volta de 750 a.C. ) no ponto em que se lê que o deus Hefesto

“... saiu a coxear. Para lhe dar apoio, correram DUAS SERVAS DE OURO, COMO SE FOSSEM MOÇAS VIVAS, COM ENTENDIMENTO E ESPÍRITO, DOTADAS DE VOZ E DE FORÇA E CONHECENDO OS TRABALHOS DOS DEUSES IMORTAIS.”

Eu me baseara, para limitar as dormidas a três horas por noite, num estudo da NASA em que se garantia precisarmos apenas de um sono pesado a cada vinte e quatro horas. Depois de algum tempo nessa longa série de delírios noturnos, entretanto, certa manhã - ao me aproximar da agência do BB - tive de me escorar na parede pra não cair na calçada e vi que tinha de me controlar. Muito do que eu faria depois, porém, viria daquela época alucinante: o painel Homenagem a Shakespeare, da UFPB, de 97; os romances A Verdadeira Estória de Jesus ( 1975) e Relato de Prócula ( 2009 ); o romanceamento do Hamlet - em minha História Universal da Angústia ( 2005 ), e o Zé Américo foi Princeso no Trono da Monarquia ( 1984 ). Nada que mudasse o mundo, mas que me mudou bastante.


FONTE: Facebook - Acesse

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