Desde Gestos lúcidos e A ilha na ostra, passando por Domicílio em trânsito, O cerco da memória e Folha corrida, entre outros títulos, até Breves dias sem freio (2025), que o poeta Sérgio de Castro Pinto parece elaborar, com seus livros e poemas, uma espécie de antologia de si mesmo. A muitos textos publicados, que seleciona em nova edição, acrescenta a safra dos inéditos, assim operando como que os passos de
uma didática crítica interior. Poucas vozes expressivas conseguem manter uma rigorosa unidade de tom e medida, de técnica e concepção, de ritmo e linguagem, como o autor de O fogo brando das palavras. Seu lirismo é substantivo, ajustado à objetividade das coisas, seres e circunstâncias que transfigura na pauta concreta de seus versos. Estes, a seu turno, ajustados às lições de um paradigma sóbrio e econômico, pertencem a uma fisiologia do menos, a uma diretriz rara que junta, numa mesma planilha estética, cálculo e emoção, rigor e sutileza. Este testemunho pode ser exemplificado com alguns poemas antológicos e ontológicos, tais como: “Os objetos de Lampião”, “Camões e Lampião”, “Garrincha II”, “Sem fórmula”, “Macaxeira”, “Atos falhos”, “Noturnos”, “Domiciliares”, “As cigarras”, “Esta lua”, “O gato e o poeta”, “Didi” e “Jogo frugal”. De 1967 a 2025, ou seja, passadas quase seis décadas de poesia, o poeta mantém uma relação íntima e criativa com a palavra, sempre atento às suas condições de som e sentido, de beleza e revelação.