Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa
Hildeberto Barbosa

O homem é uma estrela!

Por: | 14/09/2025

Letra Lúdica

Hildeberto Barbosa Filho
O homem é uma estrela!

Se é verdade que a melhor maneira de enfrentar o nada é tirar fotografias, conforme diz o narrador de “As babas do diabo”, conto de Júlio Cortázar, Marcos Estrela, 67 anos, sabe isto como poucos.

Estrelado no nome, estrelado na sorte, estrelado no talento de viver espiando as coisas que o cercam e o atraem como um solitário caçador de imagens e de símbolos, Marcos vive esmerilhando a sagrada beleza de topografias inexploradas.

Marcos é mais um sertanejo exilado nos arenitos do litoral aonde aportou, faz tempo, para tentar a vida como muitos dos seus irmãos de sol e seca. Fez de um tudo para amealhar o pão. Ter o de comer. Prover família e garantir a sorte da prole. Biscate aqui, biscate ali, sempre com disposição e sem soberba. Até que descobriu o elemento mágico e seminal que lhe definiu a vocação natural e gloriosa. A paixão pela fotografia.

Marcos Estrela tem a estrela de saber olhar o mundo, de escutar a melodia secreta das paisagens, de decifrar o aroma espesso do idioma nos confins do universo. Descobriu as veredas daquilo que é morto e retorna no instantâneo do clic, tornando eterno o que passou.

Sinto isto quando observo e contemplo a ruma de fotos que fez e faz dos interiores do Brasil, como se fora um escafandrista de edificações, de atmosferas, de enredos, de poemas arquitetados no corpo agreste de povoados esquecidos.

Alguma coisa, quero crer, mexe por dentro de Marcos. Quem sabe não seja certa componente mística a presidir os sinuosos decretos da criação. Talvez a estranha sabedoria dos ermos distantes, dos silêncios devassados pela ordem cósmica dos crepúsculos, dos sacros espaços das igrejas antigas, divididas entre a piedade e o mistério.

As abóbadas, as torres, os sinos, os adros, as escadarias, os altares, tudo parece mover seu olhar meditativo, seu coração trespassado pelas adagas dos rituais físicos e metafísicas que cristalizam vitrais e oratórios na perspectiva retórica do fenômeno divino. Marcos fotografa tudo isso como se fizesse a sua mais íntima oração. O seu conciliábulo com os deuses.

Microempresário, serigrafista, arte-finalista, gente do visual e da plástica, pai de família, amigo, boêmio, andarilho, Marcos Estrela me cativou desde que o conheci nos idos de 80 da centúria passada, trazido a meu convívio pelo saudoso amigo e poeta Lúcio Lins.

Sei do seu valor como homem e como artista. Sinto nele alguma luz inquietante que me faz pensar, por exemplo, em figuras como Jaime Ovalle e Marcos Veloso (o querido “Paviva”), seres reais e alados que habitam o país do encanto, localizado na geografia cintilante das belas amizades.

Também, pudera! O homem é uma estrela!!

(Publicado hoje,14/09/25, em A União)


FONTE: A União - via Facebook - Acesse

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