Sou
um homem simples, casado, cotidiano, tributável, só para me lembrar de um verso de um de meus mestres, Álvaro/Pessoa. Estou com 71 anos, e vejam que coisa estranha: publiquei mais de 70 livros. Tenho dezenas inéditos. De duas, uma: ou sou estúpido ou sou louco. Poeta anônimo, provinciano, poeta morto. Sei que poucos ou ninguém leu os meus livros. Nunca ganhei prêmio. Sei que nunca terei registro no túmulo da história. Mas continuo escrevendo, publicando, cultivando o ilusório chão da coisa literária. A literatura é muito mais que uma geografia. A literatura é o permanente tempo inaugural. Habito um país longínquo onde se falam todos os idiomas e onde se distendem todos os mapas. Sou um vírus poético e uma reima metafísica diante de um mundo devastado pela hipocrisia e pelo ressentimento. Detesto tudo aquilo que acaba no puro princípio da materialidade. Além de neurótico, como qualquer normal, sou místico. Sem Deus nem diabo. Publico livros porque não gosto disso. Adoro a vida, mas morri, já faz algum tempo. Mesmo assim, conto com você, para dividir comigo, mais uma vez e sempre, e, de certo modo, a dor e a alegria de estarmos vivos. Sábado, dia 20, depois das 10 horas da manhã, na sede da Editora Ideia, Avenida Juarez Távora, 1369, por trás do antigo Lacatário da Torre , espero você, com a sua querida presença. Além dos livros, estarei oferecendo uma legítima cachaça brejeira, sucos, refrigerantes, petiscos e um que outro Ballantine. Venha, aposte na minha loucura, me alimente o alento de existir. Somos tão efêmeros e tão precários. Por isto pensamos tanto na eternidade. E só o corpo tem razão, como diria Nietzsche, apesar de o homem ser, segundo Camus, “a única criatura que se recusa a ser o que é”.
