Na próxima semana vou falar de Zé Américo na APL: Academia Paraibana de Letras. De Zé Américo escritor. De fato, Zé Américo foi um escritor. Dentro do escritor, um estilista. Um estilista é aquele que cuida da palavra como se rega rosas num jardim ou aquele que sabe limpar a palavra da sujeira e do excesso. Nem vai pelo mínimo nem pelo mais. Gosta do equilíbrio e da elegância. É aquele que sabe onde ela, a
palavra, deve estar, como queria Coleridge, no melhor lugar possível. Nao farei a sua santificação, como certos pulhas da hipocrisia literária, nem a sua demonízacao, como certos calhordas e ressentidos. Zé Américo tinha talento literário, mas não tinha vocação. Sua vocação sempre foi a fera capciosa da política. No entanto, nostálgico de uma realização estética, dizia que só sabia falar literariamente. Verdade. Por isto, porém, nunca se consagrou como um romancista dos melhores. Tipo Zé Lins, Zé Vieira, Ariano Suassuna, só para lembrar paraibanos. Havia, embutido, nele, um ensaísta que se desenhava, um tribuno asfixiado pela luxúria verbal. A bagaceira, Boqueirão e Coiteiros são menos ficção artística que tese sociológica, menos arte literária que documento geográfico e antropológico. Mas, a sua frase é lapidar. Escreve bem e com brilho como poucos. Seus discursos e textos de biografemas me parecem o melhor de suas vísceras literárias e estéticas. O estilista me agrada. Os perfis que escreveu, certos discursos que pronunciou, certas passagens de suas memórias me dão a medida exata do amor que nutria pela palavra. Venho pensando nisto, faz tempo. Ao sabor da melodia desses pensamentos provisórios.