Sei que podem existir outras classificações. E sei, também, que as classificações amputam a melhor região do conhecimento. Mas, como me lembra uma leitora superinteligente, elas são inevitáveis. Pois bem, vou me socorrer de uma delas e dispor dos poetas em duas categorias. Óbvio, provisórias, como as fases da vida. Os artificiais e os viscerais. Não vejam os artificiais como frívolos ou supérfluos. Ao
contrário, uso o adjetivo no seu sentido positivo e edificante. Os artificiais são os artífices. Os artesãos, os "logicos-matematicos", os construtivistas. Senhores da forma e da geometria. Os que sabem juntar vocábulos submetidos ao imperativo da precisão e da beleza. Anauld Daniel, Valéry, Cabral e tantos outros, maiores, medianos, menores (todos existem!). Os viscerais a seu turno, fazem o verso possuídos pelo fogo dos relâmpagos. A eles, a palavra não serve com a lógica do tijolo no cardume da alvenaria. Não se prestam ao milagre contido de uma forma balizada pela perfeição verbal. Dentro deles, os viscerais, o demônio dá as cartas da loucura, e o poema emerge das palavras com a luz de uma bomba radioativa que não não destrói nem mata. Produz vida.